sexta-feira, 8 de maio de 2009

ao longo dos séculos: transcrito do muro

Dezembro é uma mulher que coloca o braço
no braço do seu homem adormecido.

Adormecida, chega-se mais ao seu corpo.
Ele gosta do seu frio.

Março tem imagens, reflectidas no espelho,
que passam rapidamente,
deixando forte impressão no peito.

Junho é escritor sem ideias.
Só sensações.

Sente-se esquecer, aquecendo-se.

Julho é mulher florescendo,
abrindo os braços para a luz,
com Agostos de amor.

Em Setembro,
uma beleza tão doce como dorida.

O tempo passa.
Todo esse tempo que passa —
até mesmo sem querer —
és tu.

Os restantes meses
são borrões de cor amalgamados,
como a memória que uso de ti.

E exclamou: "Meu Deus!"

Foi então que caiu em si.

Percebeu que estava sozinho e,
como se não bastasse,
completamente embriagado.

Mais preocupado em tentar manobrar os membros
do que em perder a calma,
avançou aos ésses pela rua,
com alma e decididamente.

Mantendo o seu low-profile,
ia gritando, em desafio parvo:

“Ninguém me apanha!”

Caiu de novo em si:
percebeu que já não estava sozinho.