Os olhares entrecruzavam-se fazia tanto tempo.
Tempo de mito, tempo concreto, tempos líquidos
que se confundem e misturam.
O amor-paixão ainda é equação ausente.
O amor puro, singelo, o primeiro amor,
já lá foi na caminhada do referido tempo,
a coberto da bruma provocada
por lágrimas, tristeza e sensibilidades agudas.
Usamos códigos italianizantes
para conceber o nosso diálogo amoroso
de mudez e segundas intenções.
Ideal de mulher, ideal de homem.
Objeto de contemplação espiritual.
Leio com atenção os teus olhos,
não vá escorregar numa qualquer interpretação errónea.
Volto a ler, com medo
de ter soletrado mal o desejo de outrém.
Nenhum poema vive exclusivamente do seu tempo presente.
O nosso olhar literário vive do passado;
é assim que vazamos os nossos sentimentos:
intertextualidade transitória das nossas desgraças,
caindo na redenção da perspetiva do teu colo,
na antecipação de um afago.
A redondilha das maçãs do teu rosto.
A sistematização da intenção das nossas vontades,
frágeis, por vezes frias.
A alusão que não se esgota em si mesma
a outros amores e outros olhares.
És o meu eleito modelo arcádico.
Terás o meu cunho.
Bebo do teu sorriso clássico.
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