As escadas sobem até tua casa,
situada algures entre a terra de onde parto,
um céu azul e uma vontade escangalhada.
Em ti pousado, finalmente,
abandono por momentos o meu lugar.
Levanto-me, como em passeio casual,
na tua direção.
Sempre nela.
Alguém grita, descontrolado.
A escada não acaba
a partir do momento em que me encontro nela.
Parti da terra, nível zero:
um cinzento povoado de tons,
mais claros ou mais carregados.
Óleo no chão.
Caixa de esmolas na mão.
Sempre pedinte de algo na vida.
Nunca tive nada.
E sempre me tiraram tudo.
Ao subir, cruzo-me com caras cinzentas,
claras ou escuras,
que ignoram o código simples
de responder ao meu sorriso.
Sempre que posso, entre inspirações profundas,
espreito pelas janelas de transição.
Edifícios, sempre mais altos,
sempre mais iguais,
escondem as mesmas caras cinzentas,
treinando sorrisos ao espelho.
A escada continua, caracol, interminável.
Como os sonhos.