Devo-te isto, quanto muito: estás atrasada.
Se vieres ainda hoje, não batas com a porta,
como é de teu jeito.
Sei que não o fazes por mal.
Mesmo que não esteja ninguém em casa,
não batas com a porta:
eu iria sempre senti-lo.
A casa é minha
e os rumores dela habitam os meus medos,
as ansiedades de um ser limitado
pelo lado lírico da vida.
Ao entrares, faz como se estivesses em casa —
no fundo estás, se a casa sou eu.
Se me encontrares deitado,
deita-te a meu lado.
Sem cumprimentos,
sem aforismos,
sem palavras.
Antes, porém, certifica-me
de que não tens os pés gelados.
Entra com cuidado na minha cama:
estou quente e sou frágil.
Ou estarei frágil e sou quente?
Não te vou querer por me quereres.
Não é assim que as coisas funcionam.
Mas já foi.
Não te vou olhar de modo especial
por me olhares de modo especial.
Aprenderei a caminhar a teu lado
se chegar a caminhar a teu lado:
não para te acompanhar,
nem para te seguir,
mas para te apreciar.
Os passos são como tijolos
que se usam para construir algo.
Eu só estou aqui a ver as vistas.
Desassociei-me disso.
Não admito que construam por mim,
apenas comigo.
Só admito desconstruções.
A ver se olhas para mim.
Quando acordares, não voltes a adormecer.
Se adormeceres, não me chames:
saí para comprar café
para o teu pequeno-almoço.
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