quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Cruzamentos divergentes

Para sempre, para ti, significa nada para mim, pequeno fantasma.

A nossa dança não se resumia a um movimento de ancas, um twist.
Não.
Nesta dança já há muito mudámos de pares.

És fria — por isso, fantasma.
Não sabes para onde vais, e por isso fantasmas por aqui.

Não fantasmes mais.

As tuas palavras foram um desenho que esbocei.
O tempo passou desde que as proferiste,
quase formando um escudo,
quase como se não tivesses já boca.

Não recordo uma fotografia tua na minha memória.

As tuas palavras são como flocos de neve:
leve som etéreo que esvanece.

Para sempre só o será
porque és fantasma por exorcizar,
por expulsar como fim.

És um papel esquisito
sobre o qual escrevo duas ou três linhas
e depois desisto.

Um papel estranho
onde as palavras voam de um lado para o outro.

Escrevo-o a negro.
Como elas, não posso parar de correr.

Não páro de correr até descolar.
Vou daqui até à lua.

Uma cadeira confortável
é todo o quinhão que me calha da vida que interessa.
Só preciso de um dia para que o meu corpo se afeiçoe a ela,
para nela dançar, desenhar, fotografar,
sonhar os sonhos estranhos
que me fazem querer sonhar sem parar —
sem isso de acordares.

As tuas palavras nevam lá fora enquanto durmo.
Navegas.

Caem como se não houvesse amanhã,
como se o dia fosse sempre noite.

O dramatismo das tuas palavras deixa-me louco.

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