quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mais um louco

Chegou ao comboio já careca, meia-idade.
Colocou-se imediatamente a meio da carruagem.

Ia fazê-lo pelo Sporting.

Despiu-se quase na totalidade, exceção feita aos calções e às sapatilhas.

Começou por fazer vinte flexões de braços enquanto insultava o Benfica e o Porto.
Vangloriava-se de ter falado com o Sá Pinto
e de ser conhecido em Sintra.

Fez mais umas quantas flexões de pernas,
gabando-se do físico.

Cumprimentava as pessoas
e continuava a insultar os rivais clubísticos.

Percebi depois que se exibia para um conhecido
que vestia um jérsei leonino autografado.
O absurdo da cena atenuou-se um pouco.

Algumas pessoas riam.
A maioria ignorava-o.

O comboio partiu.

O seu rosto estava agora vermelho do esforço e do orgulho.

Chegados a Santos, já vestido —
e sob o atento olhar de dois polícias —
tentou cravar o jornal ao seu conhecido,
que afinal não o era.

Despediu-se de todos os espectadores com um:
“Agora vou à Kapital!”

Estavam 10 graus lá fora.

A carruagem ficou impregnada de suor.

Leonino.

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