Chegou ao comboio já careca, meia-idade.
Colocou-se imediatamente a meio da carruagem.
Ia fazê-lo pelo Sporting.
Despiu-se quase na totalidade, exceção feita aos calções e às sapatilhas.
Começou por fazer vinte flexões de braços enquanto insultava o Benfica e o Porto.
Vangloriava-se de ter falado com o Sá Pinto
e de ser conhecido em Sintra.
Fez mais umas quantas flexões de pernas,
gabando-se do físico.
Cumprimentava as pessoas
e continuava a insultar os rivais clubísticos.
Percebi depois que se exibia para um conhecido
que vestia um jérsei leonino autografado.
O absurdo da cena atenuou-se um pouco.
Algumas pessoas riam.
A maioria ignorava-o.
O comboio partiu.
O seu rosto estava agora vermelho do esforço e do orgulho.
Chegados a Santos, já vestido —
e sob o atento olhar de dois polícias —
tentou cravar o jornal ao seu conhecido,
que afinal não o era.
Despediu-se de todos os espectadores com um:
“Agora vou à Kapital!”
Estavam 10 graus lá fora.
A carruagem ficou impregnada de suor.
Leonino.
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