quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mais uma viagem

Apanhei o táxi por necessidade. Estava atrasado.

Depois de comprar o jornal, enfiei-me logo no primeiro da fila.
O carro cheirava intensamente a suor.

Disse: “Era para a Rua do Cruzeiro!”.

Respondeu o taxista: “Era, já não é?”.

Típico.

Bem-disposto, foi alegrando a travessia matinal com a sua sabedoria.
Eu, sabendo que a viagem nem era assim tão longa — e sentindo uma boa-disposição ausente há dois dias — alinhei.
Fomos na conversa.

De repente, a pergunta:
“Sabe quantas verdades há no mundo?”.

Não fazia ideia.

“Quatro!”, informou-me. “A sua, a minha e a do outro.”

Fez uma pausa, esperando que perguntasse pela quarta.

Deixei-me estar, saboreando a sua ansiedade crescente de conclusão.

Como nenhuma das partes cedia, perguntei finalmente:
“Então, e a quarta verdade?”.

“Calma”, respondeu. “A quarta é a Verdade.”

Fiquei calado. Pensei que até poderiam ser duas verdades e meia, se cada opinião valesse apenas metade, três e dois quartos ou até mesmo apenas uma.

“Eu tenho a minha opinião, você tem a sua, o outro tem a dele. Depois existe a Verdade.”

Simpática maneira de começar o dia, não é?

“É bem verdade.”

Fechei sonoramente a porta do carro.

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