terça-feira, 2 de setembro de 2025

Aceitação

 Num momento és corpo físico, noutro um corpo de memórias já mais desenhadas que reais, já mais imaginadas que concretas. Num segundo mostras o teu sorriso doce e meigo, a verdadeira janela da tua alma pura, no segundo seguinte resta apenas o vislumbre de algo que julguei ver, ou melhor ainda, imaginar. A vida, entretanto, continua indiferente a tudo, a todos, a nós. Sobretudo a nós. 

Enterro contigo parte de mim. Os abraços dados fizeram-me indiferente perante a magnitude de uma dor que se instalou muito antes de ires. As palavras, essas, nunca chegaram a ser ouvidas. 

A verdade é que a vida é um desperdício. O ciclo de estadias e partidas apenas agora começou. Resta habituar-me a ser um ponto de permanência, um porto seguro de vontades e crenças que não são nada mas, como a vida me disse e foi ensinando, são tudo a que me posso agarrar. É como se estivesse perdido no mar, sem sensação de resgate, apenas admiração pelo que parece - dentro do finito - infinito.

Nesta linha ténue, entre o fim e o tudo, nada mais resta senão aprender a aceitar.

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