terça-feira, 2 de setembro de 2025

Epidemia da idiotia

 Estranho tudo isto,

tudo isto é estranho!

Somos uma espécie louca,
auto-destrutiva e violenta.

Somos também sensatos,
amantes da vida, pacíficos.

Gostamos de espezinhar os outros
e gostamos de os ajudar.

Vemo-nos mais do que somos,
esquecendo a nossa dependência absoluta
do mundo que tão avidamente procuramos destruir.

Tenho pensado nisto diariamente,
com cada vez mais força,
com desespero — sei lá bem o quê.

Gostava de mudar as coisas,
mas vejo-me puxado por elas.

Interventivo no sofá.
Passivo na ação.

Vejo-me um reflexo dos outros.
Somos todos reflexo dos outros.

Gostava que os pós de poesia, pintura,
arte em geral,
fossem cura para as doenças de que padecemos.

Gostava que todos recebessem educação,
conhecimento,
com gosto e gratificação.

Gostava de não ter idiotas perigosos,
absolutamente ridículos,
a serem eleitos
e cegamente apoiados
por outros idiotas.

Preocupa-me esta epidemia da idiotia.

Gostava de tanta coisa.

Mas sei que querer isto é impossível.

Resta-me reduzir os meus quereres,
fintar impossibilidades,
rematar forte para um golo
de possibilidades finitas.

O dinheiro manda muito.
A pior invenção da humanidade
manda muito
e manda tudo isto às urtigas.

Vejo amigos, conhecidos,
a terem mais e mais filhos.

Preocupa-me o futuro deles.

Parece-me irresponsável
meter mais bocas
num mundo insustentável.

Tudo estava bem
até aparecermos nós.

Agora que cá estamos,
por favor, façam por melhorar as coisas.

(Se bem que não piorarem
já seria fantástico.)

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