Procuro-te.
No meio da multidão de flores diurnas que passam e riem,
és a flor que desabrocha à noite.
Sair de casa tarde, habituar-me ao escuro,
ao tumulto existencial em forma de pés que calcam e calcam,
imparáveis.
E, a cada passo, cuidadosamente,
evitar as poças de água
em que certamente nos afogaríamos.
Encontro-te.
Tens todo o ar de quem sabia.
O ar de quem sabe ter sido encontrada,
o olhar de certezas insossas, incertas, torpes.
O olhar teu de memórias ainda por viver.
Tens uma mão de carícias passageiras
na qual o passado tem importância relativa
no peso total da tua ternura.
Procuro-te.
Entre grossos pingos de chuva que nos alimentem,
entre o refrescar do calor abafador
de um monte elevado de situações a que chamamos vida.
Daqui criaremos uma exuberante selva, só nossa.
Seremos como um tigre na Ásia,
ou um ponteiro a roçar os segundos.
Caminho contigo, agora.
O nosso lugar não é aqui.
Tripulamos um beijo como o nosso
e não pensamos no desperdício
que foi ter estado tanto tempo sem ele.
Deixo sempre para trás
o frio da minha vida
em comparação com o calor do teu abraço,
na certeza injusta de seres forte,
tão forte,
que és inclusivamente capaz de afastar,
com os teus punhos,
punhados de fantasmas meus.
O calor faz-nos,
fez-nos,
alimenta-nos.
Não me sinto a ir de encontro a...
Estou de fugida.
O nós que somos
dá um sentido aquecido à fantasia,
a sonhos que se guardam
e esperam ansiosamente quietos
até ao final do dia.
É injusto, eu sei.
Tu dizes-mo também.
E é verdade também,
sabemo-lo ambos
no sono são desta vida.
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