terça-feira, 2 de setembro de 2025

Semicírculo

 Este sou eu refletido numa montra suja.

Sou eu de lado,
sombra sem dono,
passo dado sem ecoar.

Mínimo.

A parede fria está quente
com rabiscos ébrios.

A realidade drogada
numa cadeira vazia
que há muito se ajeitou
a um corpo ausente.

Assento-lhe o silêncio
entrecortado com a tosse metálica
de um qualquer vizinho,
mergulhado numa qualquer televisão
ou em promessas de outras vidas.

Coloco ao peito
os fragmentos alheios que brilham ao alto,
de uma arrogância jovem e sem par.

Sigo insulto abençoado
pelos semáforos da vida.

Os olhos que piscam não são meus.
A autorização de passagem
é-me interdita.

Mais vale a pena
ficar sem fazer nada.

Mais vale a pena
nadar em cimitarra.

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